O ano de 2011 é o marco inicial da minha trajetória como artista plástico. Antes disso, estive observando, escutando e sentindo. Aos 32 anos inicio a minha exposição pública. Exponho não só o meu rosto, mas essencialmente o meu pensamento e a trajetória de uma sociedade em transformação. Eu sou arte-educador. Em cada quadro que finalizo, inicio uma nova e instigante jornada. Nova para muitas pessoas e vital para outras, que não seriam as mesmas se tivessem que existir de outra forma.
A obra Mulher na Roça é uma cena do meu cotidiano, do cotidiano do meu povo nativo, daqui. Sem a mulher e sem a roça, não teríamos presente tampouco futuro. A mulher e sua roça são como mãe e filho, colo e proteção.
Busco inspiração virando pássaro, e retornando num vôo rasante, escuto o que os parentes tem a dizer. O que os espíritos diziam nos rituais, agora eles sopram no vento porque rituais já não querem mais ver. Bater folhas e outros segredos foram desacreditados e a medicina já não dá conta de tudo. Kanaimé já quase não assunta e já há quem ri e zomba dele.
Ando catando fragmentos de panelas e ossos, pontas de flechas e miçangas espalhadas na multidão que avança sedenta e sem alma. Abstrata, sem rosto ou forma que não bebe o leite do peito e de manhã, não são os cantos dos pássaros que lhe acordam, são as sirenes. Eu passo nas cidades grandes e os rios agora são desgostos e os índios são empecilhos.
Já tiveram tantos que passaram fazendo arte e disso fizeram aquilo, e daquilo fizeram outros e outros se fizeram deles. Eu me inspiro nas cores, nas formas, nas dores, nas feridas, nos esquecimentos, naquilo que tá na origem, no cerne do ser. Naquilo que rompe o homem de todos os outros bichos, na forma de ver e pensar. Me inspiro nos cheiros, aromáticos e fétidos, nas cheias e secas de lama e poeira. Na vida que cruza mundos em sombras de bananeira, nas ramas de batata doce, abacaxi e macaxeira eu não vou a museu eu bebo na fonte.
Compartilho esse trabalho com quem quer um toque de esperança, com uma criança e com quem busca se achar diante de si mesmo. Com gente chique da savana. Eu digo isso porque assim me foi determinado e eu falo pelos antigos, que foram para que e você, pudéssemos dizer que sim, aqui um dia já teve dias mais alegres.
O que falo o que escrevo o que desenho, o que com cores dou vida, o que capturo com o olho da máquina, misturo tudo e como, como igual pirão raspando o fundo do tacho, dividindo com os irmãos, todos sentados no mesmo chão. Quer provar?
Nazareno e Criz, amantes da arte e da vida, adquiriram a obra Moradia e dizem que: Adquirir uma obra do Artista Jaider Esbell, representa principalmente o resgate de cultura e a integração de uma nova ordem socioambiental.
Nos vemos lá. Onde? No futuro.
Jaider Esbell – Arte educador
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