sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Coluna Rede Literária, edição #150 de 23.02.18

Prólogo

Buenas, povo bonito.

Chegamos orgulhosamente à edição número 150 da coluna Rede Literária.

Como é algo para ser celebrado, convidamos os leitores a nos convidarem para bebericar algo em troca de contarmos como é esta singela experiência de jornalismo cultural no meio do mundo.

Enquanto vocês decidem o boteco onde vamos nos encontrar, leiam, compartilhem e comentem a postagem desta semana.

No aguardo de seus contatinhos,

Edgar Borges

Mande notícias: culturaderoraima@gmail.com / edgarjfborges@gmail.com

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ANARRIÊ

De olho nos inúmeros arraiais que acontecem em Roraima, as quadrilhas juninas já começaram a ensaiar em escolas e outros espaços. Uma delas é o Grupo Folclórico Coração Caipira, que buscará novamente os títulos de campeã municipal e estadual roraimense (este aqui lhe assegura uma vaga no concurso Nacional de Quadrilhas Juninas que neste vai rolar em Boa Vista).



 Se você quiser conferir os ensaios da Coração Caipira, é só chegar sábados e domingos às 17h na escola estadual Girassol, rua Jango Menezes, bairro Buritis.


ARTE DIGITAL

“Kraken”, aquele bicho enorme mitológico que habita as profundezas do mar, é o título da ilustração feita recentemente pelo Edgarzinho Ebb, filhote artista de 10 anos deste blogueiro que ama vocês. A imagem foi produzida no Paint a partir da ressignificação das imagens padrão do programa.



Mande também sua arte digital (ou digitalizada) para nós, com seu nome, título da obra, site ou rede social. Será um prazer divulgar.

TOMA CULTURAL



Artistas brasileiros e venezuelanos fizeram na última segunda (20/02) uma ocupação cultural na praça Capitão Clóvis, Centro de Boa Vista, levando música, poesia, arte e alimentos para os migrantes que ocupam o espaço.



A intervenção serviu para atenuar o sofrimento dos migrantes que estão abandonando a Venezuela por conta da crise econômica do país vizinho e vindo morar em Boa Vista. Dezenas estão acampados na praça, dormindo ao relento e sobrevivendo de doações enquanto não conseguem espaços próprios para viver ou avançam rumo a outras cidades ou países.



A poeta Elimacuxi foi uma das artistas que participou da Toma Cultural e é a autora destes registros de amor e solidariedade. É dela também o texto a seguir, comentando porque se engajou na ação:



“A arte não é uma fuga da realidade trágica da fome. É um saciar de outras fomes. Ninguém quer só sobreviver. A arte transforma dor em potência. Mobilizados pela Zoë Clara, Benjamin Mast e a banda Los Goliardos, muitos se envolveram na tomada cultural da Praça Clóvis. Os sorrisos colhidos são nosso troféu. Ganhamos todos ao demonstrar que em Boa Vista há quem não se acomode com o discurso de ódio, quem diz Não à xenofobia e abraça a solidariedade como forma de fazer, da vida, arte.”




POESIA

A seguir, um poema visual falando sobre solidariedade, de autoria de Carolina Uchôa, que tem outras coisas para serem lidas em sua página no facebook. 





SEJA SOLIDÁRIO

Ainda no clima da questão migratória, vamos a uma nota de utilidade pública: centenas de migrantes estão vivendo maus momentos nas praças e abrigos da cidade. Sensibilizadas com isso, pessoas de bom coração organizam quase que todo dia a distribuição de alimentos nestes locais.

Se você quiser ajudar doando alimentos marmitas, dinheiro para comprar gás ou voluntariando-se para dar uma força na preparação e distribuição dos alimentos, é só entrar em contato com um ou com todos esses telefones aí a seguir. Faça isso. O mundo agradece.


981113019    -  981072920   -   981146681

Guardou na agenda? Agora é só ligar.


COLECIONISMO

Dá um chega neste sábado (24) no prédio do Espaço de Cultura e Arte União Operária e participa da reunião do Clube de Colecionadores. A turma fechou parceria com a UFRR, responsável pelo prédio, e agora passa a fazer seus encontros no local, que fica na avenida Nossa Senhora da Consolata, 565, Centro.

A reunião começa às 9h e qualquer pessoa com interesse em colecionismo pode participar. O grupo nasceu no dia 29 de novembro de 2014, com uma proposta bem simples: encontrar-se todo sábado na antiga Livraria Saber e trocar informações e dialogar sobre coleções de todo tipo.



Por isso os participantes sempre levam peças de suas coleções para mostrar aos colegas. Aparece de moeda antiga a máquina fotográfica, passando por miniatura de carrinhos.

Aqui no blog a gente já falou outras vezes sobre colecionismo. Se quiser conferir, clica.


MAPEAMENTO

A Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado de Roraima (Aterr) iniciou uma campanha de arrecadação de material escolar e de higiene, além de brinquedos, para distribuir entre os migrantes venezuelanos.

Se quiser colaborar, ligue para 999173300 ou 991161967.



Além desta campanha, a Aterrr prepara-se para uma tarefa que vai exigir todo apoio da comunidade: fazer um mapeamento das travestis que vieram morar em Roraima por conta da onda migratória venezuelana.

Quem souber de alguém, avise.


MONTE RORAIMA

Termina nesta sexta (23) a exposição com fotografias digitais do Monte Roraima na galeria Galeria Franco Melchiorri (Sesc Mecejana).


Os interessados têm até as 21h para conferir as imagens, produzidas durante uma excursão realizada no ano passado à montanha que dá nome ao nosso estado e é o berço das mais importantes mitologias indígenas da região.


A exposição é formada por imagens projetadas nas paredes da galeria e destacam a fauna, a flora e paisagens do monte. Numa das paredes da galeria é possível conferir um infográfico do Monte Roraima, pintado pela artista maranhense Vivian Alves.



YE’KWANA

A Universidade Estadual de Roraima (UERR) promove neste sábado (24) o seminário “A Distinção contável-massivo no Ye’kwana e em outras línguas Karib de Roraima: novas perspectivas de pesquisa linguística”.

O seminário será uma apresentação pública da pesquisa de doutorado desenvolvida pela professora do curso de Letras, Isabella Coutinho Costa. O trabalho mostra a distinção entre nomes contáveis e massivos no Ye’kwana, uma língua da família Karib falada no extremo noroeste de Roraima, na Terra Indígena Yanomami.

Também haverá um debate sobre as perspectivas de pesquisa linguística na área de línguas indígenas.

O evento é gratuito e aberto ao público.

BOOKCROSSING

Além de colunista cultural, sou também o autor do livro de contos "Sem Grandes Delongas". Há alguns dias iniciei um bookcrossing com ele (ou seja, estou deixando exemplares do livro em lugares públicos para quem pegar primeiro).

Já liberei exemplares no parlatório da Universidade Federal de Roraima e nas escadarias do prédio histórico Casa Bandeirante (ou JG Araújo, para os mais íntimos), no Centro.





Neste final de semana devo deixar na praça Mané Garricha e no bairro Cambará. Quem achar, dê aquele retorno para eu saber sua opinião. Quem quiser comprar, é só mandar e-email ou me contatar via redes sociais.




Ah, o blog do livro é este.



UM CONTO 

Marcelo Perez, autor do livro de contos “O desgaste do tempo nos dentes”, lançado em setembro de 2017, nos brinda esta semana com um de seus textos, intitulado

PARANOIA CONTAGIANTE

Eu vivo trancado em meus medos. Não pense que você é diferente. Mas não é mesmo. Eu tenho a
mente inquieta. Enxergo a vida em pedaços, vários ao mesmo tempo. Tenho a ligeira sensação de algumas partes, talvez as metades. E embora isso pareça um tanto quanto sufocante e eu posso garantir que é, sobrevivo. Não acredito em nenhuma mudança espetacular do ser humano. Somos todos doentes. A minha fé é mercenária. Somos exatamente o que deveríamos ser.

Todos os dias faço as mesmas coisas com a impressão de não haver escolhas, o livre arbítrio é alegoria da Bíblia. E como um boneco em suas limitadas funções, eu as repito. O banho gelado após o trabalho. Os três sanduíches de pão com queijo, quase queimados. Depois entro no quarto e morro de frio com dois ventiladores e a central de ar ao máximo. No fundo eu gosto da beira do abismo.
Estirado na cama, com o estômago entupido e ligeiramente anestesiado, meus olhos pesam como chumbo em água. E eu resisto. Eles completam uma piscada mais lenta, eu resisto, insisto em mantê-los abertos, insisto em pensar que a vida não é assim. Mas em bem pouco tempo, sem nem me dar conta, já fui. A vida é assim.

Após um pequeno intervalo, acordo desesperado. Como sempre faço. Não consigo dormir sem antes completar a ronda pelos cômodos da casa. E como um cachorro desconfiado, ávido pelo muro do seu território, eu executo rigorosamente a mesma trajetória. Vou até o escritório, chego bem perto da janela e observo. Em seguida, me distraio na estante com as fotos da família, a cada dia me parecem diferentes os olhos distantes. Passo pela sala vazia, ainda sem mobília e arrisco uma olhada na janela. Entro na cozinha e com a luz apagada percorro todo o comungol, de uma ponta a outra da parede. Ele forma um imenso painel com ampla visão do fundo do quintal. A escuridão atraente dos terrenos vizinhos, o silêncio da noite de olho no descuido do alvo e a chuva insistente do inverno. Tudo parece normal.

Mas na semana passada, após rondar por todos os cômodos, quando eu já havia deitado na cama de vez, ouvi barulhos estranhos do lado de fora. Não era o vento incansável e nem as folhas arrastadas nas patas dos cães. Encostei o rosto na grade da janela da sala e espiei por um tempo um pedaço de rua sozinha lá fora. Entrei na cozinha, percorri todo o perímetro e nada. E foi enquanto eu bebia um copo com água, com os olhos apontados para o fundo do quintal eu avistei dois vultos. Por uns instantes não tirei os olhos daquela imagem, queria perceber algum movimento frequente, justificando a necessidade das minhas rondas noturnas. Até reconheço traços de uma psicopatia presente neste meu hábito obscuro, mas também confesso o quanto é excitante pensar na possibilidade de um dia, de fato encontrar algo. E isso é inexplicável.

Então, o grito. Depois da história esquecida dos vultos, eu estava dentro do quarto quando ouvi. Voltei correndo à cozinha, me escorei na beira do comungol e avistei do outro lado da cerca um homem de boné, agarrado aos cabelos de uma mulher. Percebi a discussão pelo excesso dos gestos. O homem levantou o braço e em seguida golpeou o pescoço dela por diversas vezes. Foram seis estocadas. E na sequência, outro grito. O estranho imediatamente olhou para o escuro, na minha direção. Não sei bem explicar como foi, eu deixei escapar esse grito, lá no fundo jamais queria ter visto, o indivíduo percebeu, descontrolado ou talvez mais excitado, continuou golpeando o pescoço da vítima, golpeava o pescoço da vítima, e a cada golpe ela se desfalecia.
— O que foi isso, criatura? — minha mulher invadiu a cozinha, acendeu a luz e começou a me questionar. Nesse momento o agressor olhou novamente na direção da minha casa.

— Apague essa merda! — gritei com ela. E a cena sumiu tão rápido como neblina na beira da estrada.

— Acabei de ver uma mulher sendo esfaqueada — eu disse.

— Você tá de sacanagem... — ela não acreditou — você come demais antes de dormir. E devia parar também com essas rondas noturnas pela casa. Tá cada dia mais paranoico, seu maluco!

Depois de tanto fritar na cama, adormeci. A casa toda trancada. De alguma forma, naquele momento, isso me acalmava. No outro dia, acordamos sem muitas palavras. Como de costume, fui cuidar dos cachorros no quintal. Fiquei observando os pequenos matando a sede e sem querer desviei a atenção para o fundo. O outro lado da cerca escondia o cenário de uma tragédia, disso eu tinha certeza. Eu não era nenhum maluco. Quando me dei conta, estava rastejando pelo mato, farejando como um cão policial, investigando cada pedaço de chão em busca do alívio imediato. E foi perto da cerca, foi perto da cerca que encontrei a prova da minha sanidade. Um boné caído, sujo de sangue. Precisava avisar minha esposa.

Voltei correndo e chegando próximo da porta ouvi um grito vindo de dentro. Quando entrei na cozinha, ela estava agachada no canto da parede, completamente estagnada, olhando para o armário do outro lado — o que foi, amor? — perguntei, me aproximando devagar. Ela, tremendo e quase sem forças, apontava para o móvel. Ainda escorria um filete de sangue na porta. Cheguei bem perto, hesitante, e quando eu abri.

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Eu começo a minha ronda às onze horas. A minha mulher fará o turno das duas da madrugada. Estamos agora dividindo a noite em turnos de três horas. Às vezes, ficamos os dois acordados, armados, cada um de um lado da casa se comunicando pelo WhatsApp. Está ventando demais essa noite. Demais. Isso não é normal. Isso não é normal. A madrugada vai ser extremamente agitada... eu acho.

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Se quiser adquirir o livro “O desgaste do tempo nos dentes”, ligue ou mande e-mail para o Marcelo:
(95) 98114-0349 / marceloperezmaciel@gmail.com.


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